O Brasil possui o maior rebanho bovino do mundo e isso representa um enorme potencial energético no campo. Os dejetos excretados são ricos em matéria orgânica e nutrientes para o solo. Através da biodigestão anaeróbia dos dejetos pode-se obter o biogás, rico em metano, e o digestato, um biofertilizante.
No Brasil, a pecuária extensiva, com os animais no pasto, predomina. Neste sistema, a maior parte dos dejetos fica no campo, e sua degradação devolve ao solo os nutrientes. Em alguns locais há maior concentração de dejetos e estes poderiam ser coletados mais facilmente para uso energético. Mas esta nota não trata da pecuária extensiva. O foco desta Nota Técnica é na pecuária de subsistência e nas pecuárias leiteira e de terminação, com confinamento.
Na pecuária de subsistência, se considera o atendimento da demanda energética para cocção de alimentos para uma unidade familiar. São necessários 3 animais para garantir a oferta de metano no biogás equivalente ao consumo de 1 ano de gás de cozinha. Cerca de 1,8 milhão de estabelecimentos pecuários enquadrados como Agricultura Familiar ou como de médio porte poderiam se beneficiar desta tecnologia. O valor estimado dessa produção é de cerca de R$ 1,5 bilhão, que representar uma economia nos orçamentos familiares.
Nas pecuárias leiteira e de terminação, com confinamento, se considera o aproveitamento do metano no biogás para projetos de micro e minigeração distribuída (MMGD) e de biometano. Adicionalmente, duas tecnologias de biodigestão são consideradas: o Biodigestor de Lagoa Coberta (BLC) e o Reator Contínuo de Tanque Agitado (CSTR). Estes resultados são alternativos entre si, por isso não devem ser somados.
O potencial de MMGD vai de 163,5 MW (BLC) até 298,2 MW (CSTR), com um Fator de Capacidade de 50%. Estes valores são de 6 a 11 vezes maiores que a capacidade instalada registrada na Aneel para esta fonte. Por ser passível de armazenamento, o metano confere flexibilidade e segurança energética, além de um elevado fator de capacidade.
Em relação ao Biometano, seu uso considerado foi o veicular, substituindo gasolina automotiva ou óleo diesel. O volume de gasolina automotiva equivalente fica entre 297 milhões de litros (BLC) e 528 milhões de litros (CSTR). O valor mais alto corresponde a 2,1% da produção nacional e 10,8% das importações, em 2019. O volume equivalente de óleo diesel fica entre 271 milhões de litros (BLC) e 480 milhões de litros (CSTR). O valor mais alto corresponde a 1,2% da produção nacional e 3,7% das importações, em 2019.