O Workshop foi aberto pelo Diretor de Planejamento do ONS, Francisco Arteiro e pelo Assistente da Diretoria de Operação, Jayme Darriba Macedo. O Diretor Arteiro apontou a disposição do ONS de desenvolver um programa em código aberto, da mesma forma que o previsor de geração eólica, e chamou a atenção para a necessidade de, considerando o crescimento da geração eólica e solar, ser preservada a inércia mínima do sistema, de forma a evitar a ocorrência de desligamentos nas condições de pós contingência.
Em seguida o Gerente Executivo de Planejamento Energético do ONS, Mario Daher, passou a coordenar os trabalhos, iniciando com uma apresentação de contextualização da operação das fontes não despacháveis, de forma a nivelar os participantes que não vivem o dia a dia da Operação do SIN. Nessa apresentação ficou evidenciada a tendência do crescimento da geração das fontes eólica e solar, realçando a vantagem competitiva que o país tem, por contar com um conjunto de reservatórios de usinas hidroelétricas que estão em condição de compensar em tempo real a variabilidade da geração não despachável, enquanto outros países têm que investir em usinas térmicas de partida rápida para esta mesma finalidade.
Mario Daher apresentou ainda um histórico do desenvolvimento do previsor de geração eólica pelo ONS, destacando que o processo desenvolvido será uma boa base de experiência para o desenvolvimento do “Previsor Solar”. Ele lembrou que o foco inicial do Operador serão as previsões para a Programação Diária e Intra Day, função da segurança operativa do SIN, dado que essa nova fonte de geração apresenta importante variabilidade e intermitência ao longo do dia. Posteriormente, o ONS iniciará uma avaliação da pertinência de uma abordagem de previsão de médio prazo que possa substituir a metodologia preconizada na Resolução Normativa 440/2011 da ANEEL.
O presidente da ABSOLAR, Rodrigo Sauaia, falou em seguida, mostrando o avanço dos demais países e a condição embrionária do setor no Brasil, que tem atualmente uma capacidade instalada de energia solar fotovoltaica inferior a 2% da chinesa. Uma das vantagens indicadas foi a complementariedade, mais acentuada no interior da Bahia, com a geração eólica. Lamentou, ao final, que as usinas solares fotovoltaicas tenham sido impedidas de participar do último leilão A-6, razão pela qual a ABSOLAR está envidando esforços junto ao MME para que esse quadro seja revertido. Segundo o executivo, é necessário dar continuidade mínima a expansão solar que possa dar escala à indústria fotovoltaica, levando a uma maior competitividade entre todas as demais fontes de energia elétrica na nossa Matriz.
Por sua vez, o engenheiro Gustavo Ponte, da EPE, indicou a necessidade de adensamento e padronização mínima da rede de medição do recurso solar em diversos pontos do país, a exemplo do que já ocorre na Europa, onde o uso da energia solar fotovoltaica está avançado. Mostrou que o efeito portfólio, em que há compensação espacial do efeito de cobertura de nuvens, bem como o aproveitamento de diversos fusos horários, permite a suavização e até mesmo o alargamento da curva de geração ao longo do dia, reduzindo a complexidade deste aspecto para os previsores e permitindo um maior aproveitamento desta fonte. Citou também exemplos de usinas cujas placas se movimentam para buscar o melhor ângulo possível em relação à incidência dos raios solares, o que amplia o aproveitamento energético.
O Consultor Técnico da EPE Gustavo Pires da Ponte realizando sua apresentação.
Pela EPE também participaram do evento os Analistas de Pesquisa Energética Gustavo Haydt (SGE); Gabriel Konzen (SEE); Juliana Velloso Durão (SMA); -Michele Almeida de Souza (SEG); Marcelo Wendel (SEG) e Cristiano Saboia Ruschel (SEG)
O pesquisador do INPE, Ênio Pereira, focalizou em sua apresentação a alta complexidade da previsão de geração fotovoltaica em condições intermediárias entre céu aberto e tempo fechado, pela dificuldade em monitorar e prever o movimento das nuvens, e se colocou à disposição para atuar em parceria com o ONS para que seja aproveitado o conhecimento adquirido pelo próprio INPE, bem como a experiência acumulada pelos países em que a geração solar fotovoltaica está mais avançada.
Em sua apresentação, o professor Sylvio Mantelli, da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, abordou o estado da arte em previsão de geração solar fotovoltaica, mostrando a importância de monitorar o movimento das nuvens por câmera “olho de peixe” (sky câmera) em combinação com imagens de satélite da superfície.
Fechando o workshop, o professor Carlos Coimbra, da UCSD – Universidade da Califórnia em San Diego, apresentou o parque gerador solar instalado na Califórnia, as ferramentas de medição e a complexidade dos aplicativos desenvolvidos para previsão em diversos horizontes de tempo. O professor chamou a atenção para a vantagem competitiva de se implantar usinas solares termoelétricas, principalmente no interior do Nordeste, algo que aparentemente não está sendo cogitado atualmente.
Deste Workshop pôde-se concluir que, estando o Brasil no prenúncio de uma forte expansão da capacidade instalada de usinas solares fotovoltaicas, encontra-se em um ótimo momento para aproveitar a experiência de outros países em que esta modalidade de geração já é uma realidade em grande escala. Este conhecimento é necessário devido à maior complexidade da previsão de geração solar fotovoltaica em relação à geração eólica.
Ficou evidente também a necessidade de o ONS influenciar a regulação em aspectos que interferem no processo de previsão, tais como os equipamentos e as condições para medição de irradiação e movimento das nuvens.
Além disso, os debates mostraram a real possibilidade de um crescimento surpreendente da geração solar fotovoltaica distribuída. Neste caso, o ONS deve também buscar, junto à ANEEL, a regulamentação para que as distribuidoras disponibilizem as informações sobre a capacidade instalada e energia gerada a partir de placas fotovoltaicas.
Fonte da notícia e créditos da foto: ASCOM ONS