Planejar significa definir antecipadamente um conjunto de ações ou intenções. Podemos entender ainda como “prever, antecipar ou vislumbrar algo que ainda não aconteceu; preparar; projetar”. Ou seja, o
planejamento energético deve considerar as necessidades futuras de
energia e como o país poderá atendê-las (relembre o conceito de energia em
O que é energia). Assista a uma animação sobre a importância do planejamento energético.
Para ter uma boa previsão, é preciso estudar como a população poderá crescer nos próximos anos e a
quantidade de energia que ela consumirá. As indústrias utilizarão energia para produzir alimentos, roupas, equipamentos, computadores, celulares e muitas outras coisas. Os caminhões precisarão de combustíveis para transportar esses produtos. Mais
energia será consumida nas lojas onde os produtos são vendidos e nas casas das pessoas que os utilizarão. Toda essa necessidade de energia se chama “demanda energética”.
Demanda Energética por Setor da Economia
A
EPE (Empresa de Pesquisa Energética) estuda a
demanda energética de cada setor econômico, conforme ilustra o gráfico abaixo.
Consumo de energia em 2031 (total: 328 Mtep - milhões de tep) - Fonte:
PDE
Esse gráfico mostra que o setor de indústrias e de transportes têm as maiores fatias. Isso significa que, de acordo com os estudos de planejamento, eles serão os maiores
consumidores de energia em 2031. É interessante notar a unidade de energia utilizada: "tep". Tep significa "tonelada equivalente de petróleo", que é uma unidade de medida utilizada para contabilizar energia de diferentes fontes. Por exemplo, normalmente eletricidade é medida em Watts (W) e gás em metros cúbicos (m³) ou Joules (J), mas as quantidades de eletricidade e gás podem ser somadas se forem medidas em "tep". A energia contida em 1 tep abastece 73 residências por um mês.
O setor residencial considera a soma de todo o consumo de energia nas residências; o setor comercial nos estabelecimentos comerciais (lojas, shoppings, padarias, etc.); o setor agropecuário nas atividades de agricultura e pecuária; o setor de transportes nos meios de transportes (caminhões, barcos, aviões, trens, etc) e o setor industrial nas indústrias. Além desses setores, temos:
-
"Setor energético" representa as indústrias que transformam energia primária em energia secundária (por exemplo, a transformação do petróleo nas refinarias) e esse processo também consome energia. Reveja esses conceitos em Formas de Energia e sobre a cadeia do petróleo em O que são combustíveis.
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O setor "Público" contabiliza a energia consumida em prédios públicos, como prefeituras, escolas e hospitais e na iluminação das ruas.
"Não energético" considera o consumo de derivados de petróleo para outros fins que não a queima, como a produção de asfalto, solventes para tintas, além de lubrificantes, graxas e parafinas, utilizados em maquinário industrial. Também considera o gás natural utilizado na produção de fertilizantes para a agricultura.
Tendo a previsão de do consumo de energia em mãos, deve-se considerar também como o país poderá produzir toda essa energia e fazer com que ela chegue a todas as pessoas em cada lugar do Brasil. Para isso, é preciso pensar nas fontes de energia que temos disponíveis e suas características (relembre em
Fontes de Energia).
Em relação à energia elétrica, precisa-se considerar, por exemplo, o quanto as fontes de energia que temos disponíveis no Brasil variam ao longo do dia ou do ano. A maior parte da energia que consumimos no Brasil provém das usinas hidrelétricas, que utilizam a água dos rios para gerar energia elétrica. Elas dependem do quanto chove nas cabeceiras dos rios, mas algumas
hidrelétricas podem armazenar energia em forma de água, no reservatório. E as usinas
termelétricas conseguem garantir que teremos energia enquanto as hidrelétricas estão enchendo seus reservatórios.
Também podemos utilizar a
fonte eólica (energia do vento), mas esse tipo de energia pode variar ao longo do dia, porque a intensidade do vento varia. O mesmo ocorre com a
fonte solar, que só gera durante o dia, enquanto há sol. Quando precisamos de energia e não há vento ou sol, é necessário acionar outras fontes de energia, como as hidrelétricas ou as termelétricas. Outra opção é utilizar
baterias para
armazenar energia em grande quantidade, mas essa solução ainda é muito cara (veja como funcionam as pilhas e baterias em
Formas de energia). Cada
fonte de energia tem seu custo e causa impactos ambientais, então é importante colocar na balança suas vantagens e desvantagens.
Por outro lado, é necessário pensar no quanto será possível aumentar a
Eficiência Energética, ou seja, o quanto de energia poderemos produzir e consumir de forma mais inteligente.
Considerando todas as vantagens e desvantagens das fontes de energia, ainda é necessário pensar quando as novas usinas ficarão prontas, para saber quando poderemos contar com a energia gerada por elas. Mas isso não é tudo, pois é necessário que a energia produzida em cada usina seja transportada até o local onde será utilizada. No caso da energia elétrica, precisam ser construídas
linhas de transmissão, responsáveis por levar a eletricidade das usinas para as cidades (veja como a energia elétrica chega à sua casa em
Formas de Energia e no
Infográfico Energia Elétrica). A EPE estuda as linhas que precisaremos no futuro (aprenda mais sobre o planejamento da transmissão) e também estuda os sistemas isolados, ou seja, regiões que não fazem parte do sistema interligado nacional - SIN (aprenda mais sobre o planejamento dos sistemas isolados).
Este
mapa representa a
expansão planejada até 2031 para usinas de geração
elétrica, linhas de transmissão (linhas) e outras fontes de energia.
Mas, como a
Matriz Energética não é só
eletricidade, são estudadas também a produção e a utilização de
combustíveis (relembre em
O que são combustíveis). Dentre os
combustíveis renováveis utilizados para o transporte, existem especialmente o etanol (álcool produzido principalmente da cana-de-açúcar) e o
biodiesel (produzido principalmente a partir da soja). Como são combustíveis que dependem da agricultura da cana-de-açúcar, gramíneas e plantas oleaginosas, é importante avaliar se haverá aumento na área plantada e quais as possíveis consequências disso.
Dentre os
combustíveis não renováveis, o
diesel usado em caminhões e ônibus, a
gasolina usada em carros, o
óleo usado em grandes navios e o
querosene de aviação são produzidos a partir do
petróleo. O petróleo é extraído a partir da perfuração do solo (no Brasil, principalmente no mar) e levado a refinarias, onde é transformado nesses vários produtos, conhecidos como
derivados de petróleo (veja os
Infográficos Petróleo e Gás Natural).
Existe também o
gás natural, que é extraído de forma bem semelhante ao petróleo e que também pode ser utilizado como combustível para carros e até ônibus (GNV =
gás natural veicular, comum em taxis). Os automóveis que utilizam GNV armazenam este gás dentro de um cilindro muito resistente localizado, em geral, dentro da mala dos carros.
Assim, deve-se verificar se haverá produção de petróleo e gás natural suficiente para atender não somente ao setor de transporte, mas também a outros setores (como o residencial, o industrial e o não energético). Para complementar a produção nacional, pode-se comprar petróleo e gás natural de outros países (importação). Por outro lado, a produção que excede o
consumo no Brasil pode ser vendida para outros países (exportação).
O
transporte de petróleo e gás natural dentro do país ou entre países pode ser realizado através de navios ou dutos. A EPE também realiza estudos para ampliação da
malha de dutos.
Este mapa representa a
malha de gasodutos de transporte existentes no Brasil, assim como os gasodutos que já foram estudados pela EPE. Você pode baixar o
mapa no tamanho original e em boa resolução no site da
EPE.
Além disso tudo, é preciso estar sempre atento a ideias relacionadas a novas formas de
geração de energia (por exemplo, a partir do hidrogênio verde e da energia das ondas), de transmissão de eletricidade (por exemplo, linhas subaquáticas), novos combustíveis para geração de energia (por exemplo, biogás de lixo) e tecnologias para o transporte (por exemplo, carros e bondes elétricos), transição energética, entre outras.
Veículos elétricos
A eletricidade também pode ser utilizada em veículos, em motores elétricos. Nesses motores, a energia química contida na bateria é transformada em energia elétrica, que move o eixo das rodas, ou seja, produzindo energia cinética. É interessante notar que o processo de geração de eletricidade em usinas hidrelétricas ocorre de forma inversa, partindo da energia cinética da água, que move as turbinas e se transforma em energia elétrica (Relembre em Formas de Energia e Fontes de Energia).
Fonte: Wikimedia Commons Autor: Mariordo (Mario Roberto Durán Ortiz). Licença: Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 Unported. Acesso: 11 jan. 2017, 15:06.
Outro veículo elétrico interessante é o VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, um bonde movido a eletricidade e implantado recentemente na cidade do Rio de Janeiro (leia mais).
Fonte: Wikimedia Commons Autor: Mariordo (Mario Roberto Durán Ortiz). Licença:
Creative Commons Attribution-Share Alike 4.0 International. Acesso em: 05 jan. 2017, 19:18.
As análises energéticas realizadas pela EPE estão publicadas em documentos chamados de Notas Técnicas, que são relatórios sobre temas específicos e, principalmente, nos planos de energia, o PDE e o PNE (assista a uma animação sobre os planos de energia).
O PDE é o Plano Decenal de Expansão de Energia, que apresenta projeções para os próximos 10 anos. O
PNE é o Plano Nacional de Energia, com projeções para um período mais longo, até 2050, razão pela qual ele é conhecido como Plano de Longo Prazo. Para projeções de médio prazo, como no
PDE, pensamos nos projetos específicos, se eles terão ou não condições de ficar prontos nesse período. Mas para projeções de longo prazo, deve-se pensar de forma mais estratégica e não tão detalhada, ou seja, pensando em decisões mais gerais (por exemplo, quais fontes de energia devem ser mais estimuladas).
As projeções de crescimento do consumo e da oferta de energia até o ano de 2031 estão reunidas no PDE 2031.
Além desses planos, o Balanço Energético Nacional –
BEN é um estudo fundamental para se entender a produção e o consumo de energia no Brasil. O BEN contabiliza a oferta e o consumo de energia no Brasil nos últimos 10 anos, contemplando as atividades de extração de recursos energéticos primários, sua conversão em formas secundárias, a importação e exportação, a distribuição e o uso final da energia. Com a publicação do
BEN Interativo, você pode simular os dados a partir de 1970, como por exemplo a produção de energia primária (em 103 tep) por fonte entre 1990 e 2022:
No mesmo link do BEN, é publicada também a matriz energética nacional para o ano anterior (relembre o conceito de
Matriz Energética).
Abordando todas essas questões, a
EPE elabora estudos para apoiar o planejamento energético do país, que é de responsabilidade do
Ministério de Minas e Energia - MME.
Para todas essas análises, a EPE conta com mais de 200 profissionais, incluindo Engenheiros, Economistas, Geólogos, Geógrafos, Matemáticos, Arquitetos, Biólogos, Oceanógrafos,
Químicos, Físicos e Antropólogos. A variedade de profissionais pensando a questão da energia garante que haverá diferentes visões sobre esse tema, chegando a um resultado final mais equilibrado.
Dica: ouça nosso podcast com histórias e conversas sobre estudos de planejamento energético ;)
Até os próximos textos!
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